Publicado em: 29/07/2021
Maioria dos entrevistados já ouviu falar, mas não sabe como tratar feridas na boca decorrentes da ação de quimioterápicos. Profissional de Cascavel quer mudar essa realidade
Você já ouviu falar em feridas na boca que surgem durante o tratamento do câncer? Uma coisa não parece se associar a outra, né? Mesmo para pacientes e familiares de quem está enfrentando a doença, o assunto ainda é pouco conhecido e debatido e a ausência de informação sobre esse tema pode estar levando muitas pessoas a terem seu estado de saúde, que já é delicado, agravado.
Em uma pesquisa realizada em Cascavel em quatro instituições vinculadas ao tratamento contra o câncer, 300 pessoas, entre pacientes e acompanhantes, foram entrevistadas sobre a importância do acompanhamento de um dentista durante o tratamento oncológico. O resultado revelou que 64% dos entrevistados já ouviram falar que surgem feridas na boca depois de iniciadas as sessões de quimioterapia, 97,3% consideram importante tratar essas feridas e 63,3% pagariam por esse tratamento caso fosse acessível. O questionário também relevou que apesar da maior parte ter conhecimento e achar importante cuidar da saúde bucal enquanto enfrenta o câncer, 95,6% não tiveram indicação do médico ou outro profissional do hospital para tratar feridas decorrentes da ação dos quimioterápicos e 89% não conhecem dentistas que ofereçam esse tratamento.
Os dados mostram o quanto ainda é pouca disseminada a informação sobre o papel do dentista no tratamento de pacientes oncológicos. Foi pensando nesse público, que a cirurgiã-dentista Marciane Silvestro Fiori decidiu iniciar em Cascavel um trabalho focado nessa área. O objetivo é evitar interrupções das quimioterapias e ampliar as possibilidades de cura, por meio de cuidados com a saúde bucal. “A quimioterapia gera alguns efeitos colaterais inerentes à medicação, como lesões em alguns tecidos. Entre essas consequências, estão as feridas na boca que podem se agravar rapidamente, aftas, perda do paladar, trismo, que é limitação da abertura bucal, xerostomia que é a boca seca... Isso tudo é o efeito do próprio medicamento, que está matando a célula do câncer e que não consegue separar a cancerígena da célula normal, então mata todas. E essas células do câncer se assemelham às células do revestimento bucal. Com essa morte celular surgem as feridas”, explica a profissional, se referindo à qualquer tipo de câncer que exija o tratamento com quimioterapia ou ainda câncer de cabeça ou pescoço que necessitam de radioterapia.
Como o dentista pode ajudar na luta contra o câncer?
Quando age preventivamente, o dentista é capaz de fazer um diagnóstico da saúde bucal e adotar medidas que evitem o aparecimento das feridas e suas consequências. A recomendação é que o paciente procure o dentista antes mesmo de iniciar o tratamento contra o câncer, mas caso seja preciso “remediar”, o trabalho é simples e acessível: consiste em terapias básicas de suporte como cuidados com a higiene, retirada de foco infeccioso, reembasamento de próteses, uso de medicamentos, além da principal ferramenta: a aplicação de laser.
A intenção é evitar que o paciente interrompa o tratamento contra o câncer por causa de infecções na cavidade oral. “Essas feridas podem infeccionar e aumentar de um jeito que a pessoa não consegue mais se alimentar. Então o paciente precisa se reabilitar, recondicionar a saúde bucal para depois dar continuidade ao tratamento oncológico. Quero dar condições para que mais pessoas continuem tratando a doença sem terem que parar por conta de uma lesão na boca”, almeja Marciane.
A profissional
Marciane Silvestro Fiori é cirurgiã-dentista formada pela Unioeste. Atualmente cursa especialização em Odontologia Hospitalar pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo, além de habilitação em Laserterapia.
Texto: Contelle
Fonte: Cidade Metropolitana